Nesse sentido, o Inventário Participativo LGBTQIA+ da região do Arouche se articula com iniciativa
anterior semelhante, o Inventário Minhocão Contra Gentrificação (Repep, 2019), buscando um olhar
crítico
em relação às iniciativas público-privadas voltadas à promoção de mudanças sociais no território com
a
exclusão dos grupos sociais mais pobres. Essa crítica também esteve presente nas ações do Coletivo
Arocuhianos LGBTHQIAPD+ que, entre as ações, reivindicou audiências públicas participativas para
debater
o projeto de reforma e, em parceria com a Casa da Lapa, realizaram intervenção artística e política
com
fotos de pessoas LGBTQIA+ nos tapumes das obras no Largo do Arouche.
Assim sendo, o Inventário Participativo é um instrumento para a produção de conhecimento sobre
os usos e
formas de apropriação do espaço público que se deram historicamente, assim como os atuais
(Iphan, 2016).
Essa forma de entendimento do patrimônio ocorre a partir da noção de referência cultural que
permite
compreender a dinâmica sociocultural do território, colocando em destaque a forma como os grupos
sociais
que moram, trabalham ou usam aquele espaço compreendem esse patrimônio cultural.
Como diz Maria Cecília Londres Fonseca (2000), o trabalho com a noção de referências culturais
significa
tomar os grupos sociais como intérpretes do patrimônio e não meramente como informantes.
Significa
compreender, como afirma Ulpiano B. de Meneses (2012) que o ventre gerador dos valores
atribuídos ao
patrimônio são os grupos sociais, cabendo ao estado o papel de reconhecimento desses
valores.
O Inventário, como uma ferramenta de produção de conhecimento sobre o patrimônio cultural, foi
tomado
como uma estratégia para a criação do Museu do Território na região do Arouche, permitindo
organizar e
elaborar ações voltadas à musealização do espaço. Assim, surge M.O.N.A - Museu da Ocupação e das
Narrativas do Arouche LGBTQIA+ como estratégia de preservação da memória e valorização das
referências
culturais identificadas, apresentando-se como instrumento de luta, afirmação cultural e
política. É mais
uma possibilidade para grupos disputarem o direito à cidade e resistirem às frequentes
tentativas de
apagamento histórico.
Confira um mini documentário babadeiro desenvolvido pelo coletivo @Casadalapa com Coletivo Arouchianos, registrando o amor, a existência, a resistência, o baphos e a ferveção no #LargoDoAroucheLGBTHQIAPD+. (R)existir - Quem ocupa existe. O mini-documentário é um recorte do projeto #FamíliasNArouche, feito como mobilização contra as narrativas da Prefeitura de São Paulo em Ação de Requalificação do Arouche.
FONSECA, Maria Cecília Londres. Referências Culturais: Base para novas políticas de patrimônio.
In: IPHAN. Inventário Nacional de Referências Culturais: Manual de Aplicação. Brasília: IPHAN/
Minc/DID. 2000.
IPHAN. Educação Patrimonial: Inventários Participativos: Manual de Aplicação. Brasília-DF:
IPHAN, 2016.
MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. O campo do patrimônio cultural: uma revisão de premissas. In:
Fórum Nacional do Patrimônio Cultural: Sistema Nacional de Patrimônio Cultural: desafios,
estratégias e experiências para uma nova gestão, I, Anais[...]. Brasília: Iphan, 2012, p. 25 a
39.
REPEP. Dossiê do Inventário Participativo Minhocão contra gentrificação. São Paulo, 2019.
Disponível em: bit.ly/minhocaocontragentrificao
Relação das referências culturais
As 40 referências culturais identificadas foram: Arraiá Comunitário LGBTHQIAPD+ Arouchianos, Atividades Culturais, Carnaval De Rua, Natal Comunitário LGBTHQIAPD+ Arouchianos, Centro De Referência E Defesa Da Diversidade Sexual Brunna Valin (CRD), Coreto, Delegacia Seccional De Polícia Centro,UBS Santa Cecília, Arte De Rua De Resistência, Atos Eventos Dominicais Arouchianos, Blocos LGBTQIA+, Pajubá, Performance Drag e Transformista, Publicações Marginais, Teatro De Grupo, Aparelha Luzia, Café Vermont, Circuito Dos Bares, Baladas E Restaurantes, Circuito Das Saunas E Cinemas, Circuito De Acolhimento E Saúde, Ferro’s Bar, Geledés: Instituto Da Mulher Negra, Largo Do Arouche, Museu Da Diversidade Sexual, Ocupação Em Arte E Cultura LGBTQIA+, Praça Da República, Ruas De Trabalho,Sindicato Dos Artistas, Sindicato Dos Jornalistas, Calendário LGBTQIA+, Chichá, Memória Viva, Estátua Amor Materno, Estátua Depois Do Banho, Estátua Índio Caçador, Estátua Luiz Gama, Namoradeira, Associativismo Comunitário, Conhecimentos Da Montagem Tranformista E Drag, Famílias LGBTQIA+
Relação das referências culturais
O método de Inventário Participativo do Iphan (2016) organiza as referências culturais em 5 categorias: Celebrações, Formas de Expressão, Lugares, Objetos e Saberes. As categorias são tanto formas de organização como possibilidades de compreensão apurada dos significados e sentidos atribuídos às referências culturais. As categorias também estão sujeitas ao tecido social, onde as referências estão enraizadas, portanto são possíveis outras maneiras de interpretar as culturas. Como o método de Inventário Participativo do Iphan permite alterações, outras 3 categorias foram incorporadas no Inventário do Arouche LGBTQIA+: Edificações, Marcadores de Tempo e Natureza. A categoria Edificações está presente na experiência do Inventário Nacional de Referências Culturais, também do Iphan, e são imóveis que independentemente de sua qualidade arquitetônica ou artística são valorados por suas significações históricas, representações sociais e narrativas que conservam em sua forma construída. Já a categoria Marcadores de Tempo trata de eventos representativos da memória que situam os grupos no tempo e no espaço, diferenciando-se de Celebrações por serem eventos únicos e sem intenção de repetição. Por fim, a categoria Natureza compreende dinâmicas culturais atreladas à existência da natureza e cuja preservação depende de fatores biológicos e climáticos.
Fichas das categorias do patrimônio cultural utilizadas no Projeto
Celebrações: 4
Edificações: 4
Formas de Expressão: 7
Lugares: 14
Marcadores de Tempo: 1
Natureza: 2
Objetos: 5
Saberes: 3
Total de fichas de referências culturais produzidas: 40
Nome dos entrevistados
As entrevistas foram realizadas em dois momentos distintos, neste Inventário Participativo do Arouche LGBTQIA+ e no Inventário Participativo Minhocão Contra Gentrificação da Repep. As pessoas entrevistadas em 2022 foram: Fernanda Frazão, Victória Principal, Eduardo Luis, Adriana Arco Íris, Ghe Santos, Cícero de Oliveira, Thais Azevedo, Diana Pequeno, Neon Cunha, Katrevosa, Helcio Beuclair, Maria Vitória do Nascimento, Anderson Sousa dos Santos. As pessoas entrevistadas entre 2016 e 2017 pela Repep foram: Alexia Twister, Chico Tchello, Hilton Have, Leila Stungis, Julian, Luana, Rodrigo Roberman Lima, Sheila Muller, Don Valentin, Ginger Moon, Miss Biá, Darbi Daniel, Ivana Wonder. Pela Repep também foram elaboradas entrevistas informais. Dessas entrevistas, selecionamos para o Inventário do Arouche os relatos das conversas com: Bia, Lilian, Veronica, Bruna, Marcelly, Loren, Bruna, Jenifer, Paloma, Paula, Melissa, Valéria Rodrigues, Carol, Gabriel, Lucas, Jaqueline, Kananda, Caíque, Jhonathan e Jefferson, Jéssica da Conceição, Rute Esteves, Jean Grey, Agatha, Wilson, Matheus Ribeiro Marques, Diego Simpson, Ricardo Silva, Stephane.