Ficha de referência cultural
Tronco e copa da Chichá no Largo do Arouche. Foto: Rafael Arakaki, 2022.
Chichá é uma árvore centenária que se destaca na vegetação do Largo do Arouche pelo seu porte e
características físicas, com tronco muito longo, liso e reto que para sustentar seu tamanho possui
grandes raízes tabulares, em formato de tábuas. Estima-se que a árvore tenha 30 metros de altura e 1
metro de diâmetro de tronco. Sua presença é notável em cartões-postais e fotos antigas do Arouche no
início do século 20. Hoje, sua existência é significado de bem estar e história para os
frequentadores do Arouche. O bem estar relaciona-se ao poder da natureza evocar tranquilidade em
meio à loucura de concreto no centro de São Paulo. A história está ligada tanto ao passado da região
da cidade quanto aos valores afetivos e as diferentes histórias de vida de LGBTQIA+ de que a Chichá
é testemunha.
De nome científico Sterculia apetala (Jacq.) H. Karst. ou Sterculia chicha A. St.-Hil. ex Turpin, a
Chichá também é conhecida pelos nomes de xixá, araxixá, boia, boia-unha-d’anta, coaxixá,
pau-de-boia, pau-de-cortiça. No arouche foi apelidada de grandona, a maior, “arvrona” entre outros.
A árvore é uma espécie da mata pluvial atlântica, mais proeminente entre o sul da Bahia até São
Paulo, e dificilmente é encontrada em grandes grupos. As folhas do Chichá são duras e com a
superfície áspera com 3 a 5 recortes. O nome xixá é um termo indígena para “fruto semelhante a mão
ou punho fechado” que pode se referir tanto às suas folhas quanto ao seu fruto, as cápsulas que se
formam em 5 segmentos. Suas sementes depois de cozidas podem ser comestíveis (Reyes, s.d.).
A primeira fotografia da Chichá no Largo do Arouche é de 1940 (Chiaverini, 2011). Nessa foto antiga,
a árvore já está com porte adulto, sendo possível afirmar que foi plantada décadas antes. A foto é
um dos indícios da hipótese do botânico Ricardo Henrique Cardim de que a árvore teria sido plantada
há cerca de 200 anos atrás, no século 19 (Cardim, 2008). A Chichá seria, então, um dos remanescentes
da região rural que um dia foi o Largo. Em uma catalogação feita com placas em árvores no arouche, a
Chichá foi datada de 1812, porém não foram encontradas outras informações sobre a inserção das
placas e documentação sobre a pesquisa feita.
Essa árvore sobreviveu a tantas reformas no Largo do Arouche, a destruição de 93% da mata atlântica
original e a poluição intensa de São Paulo (Um, 2018). Atualmente, a Chichá é considerada uma das
árvores mais antigas e bem cuidadas da cidade, com bom estado de saúde e bem integrada ao ambiente
em que se encontra (Chiaverini, 2011).
As árvores são consideradas símbolos do Largo do Arouche, seja o cheiro de plantas, a cor verde da
natureza que foram identificados por muitas pessoas que deram depoimentos para o projeto Wikipraça
Arouche, como Roberta Stronger e Horacides. Para Ghe Santos, em entrevista para o Inventário
Participativo do Arouche, as árvores do Arouche representam a história desse lugar que está
relacionada com sua própria vida:
Eu tenho uma marca numa árvore dessa. Sabe aquela mania de vim e marcar árvores. Eu tenho… tenho uma marquinha numa árvore dessa dai. E quando eu olho para essas árvores eu lembro de muita história, de muita coisa. Lembro que eu já apanhei aqui, eu lembro que já tive grandes amores, eu lembro de como eu me tornei uma pessoa positiva. Então o Largo do Arouche para mim tem muita história, tem muito de quem eu sou [...]
Outras espécies de árvores também são emblemáticas no Arouche, como as Pau-ferro, Sibipirunas, Spathodea, Jaqueira e a falsa seringueira (ficus elastica). A Chichá foi escolhida como referência cultural para representar a importância de todas as árvores do Largo do Arouche. É importante pontuar também que existe um projeto do coletivo Arouchianos, chamado Memória Viva, que homenageia personalidades da comunidade LGBTQIA+ com uma árvore específica para cada pessoa. As árvores já existem e estão em fase de crescimento, posteriormente serão plantadas no Largo do Arouche.
Coletivo Arouchianos
Ghe Santos
Wikipraça Arouche. Depoimentos. Acesse aqui
CARDIM, Ricardo H. O grande chichá centenário do centro de São Paulo. Árvores de São Paulo (Blog). Acesse aqui
CHIAVERINI, Tomas. Árvores centenárias em São Paulo. Veja São Paulo, 21 de maio de 2011. Acesse aqui
REYES, Andrés E. L. Trilhas da ESALQ. Acesse aqui
UM pé de quê? Chichá. 2018. Acesse aqui
OUTRAS REFERÊNCIAS CULTURAIS RELACIONADAS
Largo do Arouche, Memória Viva