Ficha de referência cultural
Estátua Depois do Banho. Fonte: Dornicke/ Wikimedia
Estátua feminina deitada nua em bronze com base de granito de autoria do escultor Victor Brecheret,
localizada no Largo do Arouche. Inaugurada em 1932, a obra é um dos projetos desenvolvidos por
Brecheret para a cidade de São Paulo enquanto a construção do Monumento às Bandeiras estava
paralisado. Para a comunidade LGBTQIA+ que frequenta a região, a estátua é conhecida como “pepeka”.
Isso porque existem muitas especulações sobre a protuberância na região da virilha da estátua, dando
margem para que se pergunte: será que é uma mulher trans? Uma travesti? Uma mulher cis? Essa
protuberância não seria uma neca aquendada? Assim, a comunidade ressignifica o objeto criando sua
própria interpretação e apropriação, provocando discussões sobre a opressão dos corpos não
hegemônicos. Não à toa, essa estátua compõe a logo do Coletivo Arouchianos, coletivo LGBTQIA+ que
atua na região.
A dedicação em esculpir mulheres nuas foi uma fase de Brecheret que se iniciou em 1924, em uma de
suas mostras individuais, teremos a exposição de sua primeira escultura representando uma mulher
nua, a Portadora de Perfume. A escultura Depois do Banho, do Largo do Arouche, inaugurada em 1932, é
uma das muitas obras com representação semelhante que Brecheret esculpiu em sua vida.
Contratado para elaboração de uma escultura em comemoração ao IV Centenário da Cidade de São Paulo,
que ocasionaria no Monumento às Bandeiras, Brecheret viu seu projeto ser paralizado por questões
financeiras e políticas, o que lhe garantiu tempo para trabalhar em outros projetos menos
exuberantes a serem instalados no município de São Paulo, como a escultura Depois do Banho, uma das
poucas esculturas da capital a expor uma mulher nua em um local público, sendo inclusive a pioneira
nesse sentido.
A escultura também foi apelidada de Diana pelo personagem criado por Celso Frateschi em peça de
teatro que é encenada desde 1999 no Teatro Ágora. A peça é ambientada na década de 1960, retratando
a escultura como uns ícones de São Paulo, conta história de um professor frustrado com a humanidade
se apaixona pela estátua:
Para o professor, a estátua é mais do que a passante para Baudelaire; é uma mulher nua, de bronze, à sua espera, com os seios úmidos de garoa, encoberta do voyeurismo de Deus por galhos de uma árvore; quase a imitação da água da mulher cabralina. Ele se apaixona ou, mais preciso seria dizer, apaixonam-se, pois que diante da delicadeza do texto e de sua encenação, no plano surreal que o monólogo instaura, o espectador é tentado a crer que Diana também está apaixonada – todos estamos. (Junkes, 2020).
Nos dias de hoje diversas polêmicas envolvem os diferentes usos da estátua. Por um lado, moradores e frequentadores do Largo do Arouche insistem na preservação total da estátua como uma obra de arte decorativa, que embeleza a região, devendo ser observada e admirada. Enquanto outros grupos sociais que frequentam o espaço, como a população LGBTQIA+, acabam por subvertendo essa visão e utilizando a estátua como lugar de socialização e de manifestação, realizando intervenções (pintando suas unhas, como exemplo) ou ocupando o espaço, literalmente, ao subirem nela. Isso ocorre pela localização da estátua no Largo do Arouche, sendo lugar de encontro, de amor, local do primeiro beijo entre outros momentos afetivos da comunidade LGBTQIA+.
Coletivo Arouchianos
WIKIPRAÇA. Entrevista Regis de Oliveira Silva e James Marques. Acesse aqui
JUNKES, Diana. Diana: a necessária fratura do cotidiano em tempos de pandemia. Revista Cult, 19 de maio de 2020. Acesse aqui
MARTINI, Karen. Depois do Banho. Demonumenta. FAU-USP. Acesse aqui
MOURA, Irene Barbosa de. A cidade e a festa: Brecheret e o IV Centenário de São Paulo. 2010. 176 f. Tese (Doutorado em História) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010. Acesse aqui
OBRA de Brecheret é pichada no Largo do Arouche. Revista Veja, 14 de jan. 2019. Acesse aqui
OUTRAS REFERÊNCIAS CULTURAIS RELACIONADAS
Largo do Arouche