M-O-N-A

Ficha de referência cultural

APARELHA LUZIA

Categoria: Lugares

Onde está: Rua Apa, 78

Curso de formação do Kilombagem na Aparelha Luzia. Fonte: Alma Preta, 2017.

Curso de formação do Kilombagem na Aparelha Luzia. Fonte: Alma Preta, 2017.

Sobre

A Aparelha Luzia é um quilombo urbano, lugar de afirmação, resistência e luta identitária negra a partir do encontro entre pessoas na cidade, um centro cultural que existe na rua Apa desde 2016. O local foi criado por Erica Malunguinho, a partir da ideia de criar um ateliê, mas que se transformou em um local de convivência e de trocas sociais de artistas negros e de luta política da comunidade negra em São Paulo. No local são organizadas festas, palestras, mesas, exposições e debates, além de uma cozinha comandada pela chef Cícera Alves. O nome é inspirado nos aparelhos, células de resistência durante a Ditadura Militar (1964 - 1985) e a uma homenagem a Luzia, o fóssil humano mais antigo do Brasil. A passagem do nome para o feminino, a partir de sua ressignificação, vem para para dar destaque a vozes do mesmo âmbito, como forma de reforçar seu caráter revolucionário.

Quem entra no Aparelha Luzia já se encontra com a negritude do espaço traduzido nos móveis, objetos de decoração, quadros, tambores. É um espaço para a negritude circular, se fazer, se encontrar e se politizar. Ao abrir a casa, Érica Malunguinho enfatiza que não é um bar, mas sim um espaço de resistência histórica e quem adentra o local precisa saber que é disso que se trata, principalmente os visitantes brancos. A vasta curadoria do espaço (oficinas, shows, lançamentos, saraus, festas, etc.) é feita por Érica que busca narrativas decolonizadoras, no qual o protagonismo negro é central.

Érica Malunguinho é uma mulher negra, trans, natural de Pernambuco, política, mestra em estética e história da arte pela Universidade de São Paulo. É também a primeira deputada estadual trans de São Paulo, eleita para a gestão de 2019 a 2023. Seu sobrenome faz referência à entidade afro-ameríndia de grande poder, do quilombo de Catucá, Pernambuco, invocado no culto da Jurema. Este, por sua vez, é um culto religioso de origem indígena com elementos afros e cristãos. Érica, então, carrega em seu nome as raízes culturais do Brasil, as territorialidades, a luta e a resistência. Luta e resistência é o que Érica tem fomentado em São Paulo. Em entrevista à revista Trip (2017) afirmou que “com suas grandes dimensões, a cidade esconde sob suas vestes uma sofisticada perversidade que resulta em violências físicas e simbólica, impedindo o desenvolvimento saudável das pessoas. Mas nunca senti medo, sempre tive substâncias para o afronte”.

Nesse contexto, a luta negra e a luta LGBTQIA+ se entrelaçam naturalmente, enquanto comum status de movimentos sociais em posição de marginalidade. Os discursos se sintonizam consciente e inconscientemente, através do debate (como discussões sobre questões de identidade trans e travesti) e dos encontros, atraídos pela música, o simbólico acolhimento, a abertura aos afetos e a resistência que se encontra no espaço físico. Pode-se considerar maior liberdade para com a expressão no movimento e nas vestes. É plural em seu público, englobando desde trabalhadores da construção civil à intelectuais, artistas, ativistas, moradores em situação de rua, imigrantes de países africanos e profissionais de diversas áreas.

  • Grupo de pessoas concentradas na frente do Aparelha Luzia enquanto aguardam o início do evento Festa da Comida Baiana em 2022. Aparelha Luzia/ Reprodução Instagram

    Grupo de pessoas concentradas na frente do Aparelha Luzia enquanto aguardam o início do evento Festa da Comida Baiana em 2022. Aparelha Luzia/ Reprodução Instagram

  • Interior do Aparelha Luzia, 2022. Aparelha Luzia/ Reprodução Instagram

    Interior do Aparelha Luzia, 2022. Aparelha Luzia/ Reprodução Instagram

  • Erica Malunguinho, deputada estadual eleita em 2018, idealizadora do espaço. Juliana Farinha/ Reprodução El País, 2017

    Erica Malunguinho, deputada estadual eleita em 2018, idealizadora do espaço. Juliana Farinha/ Reprodução El País, 2017

Fontes de pesquisa

A mulher que pariu um quilombo urbano. Revista Trip. 6 mar. 2017. Acesse aqui

Aparelha Luzia, o quilombo urbano de São Paulo. Jornal El País, 3 de novembro de 2017. Acesse aqui

Aparelha Luzia, um território de resistência negra na capital paulista. Portal Alma Preta, 1 de abril de 2017 Acesse aqui

SOUL vaidosa. Lugar de resistência em SP — Aparelha Luzia. 15 de outubro de 2017. Acesse aqui

OUTRAS REFERÊNCIAS CULTURAIS RELACIONADAS
Geledes, Ocupação em Arte e Cultura LGBTQIA+