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Ficha de referência cultural

RUAS DE TRABALHO

Categoria: Lugares

Onde está: Rua Rego Freitas; Bento Freitas; Amaral Gurgel; Santa Isabel; Marques de Itu; Major Sertório; General Jardim; Dr. Teodoro Baima; Epitácio Pessoa; General Jardim; Santa Isabel. Largo do Arouche e Praça de República

Trabalhadora na esquina da Rua Bento Freitas com General Jardim, foto da Ocupação PUTA anti-gentrificação, edição Mixto Quente na Bienal de Arquitetura, 2017. Fonte: Tiago Guiness/ reprodução Archdaily

Trabalhadora na esquina da Rua Bento Freitas com General Jardim, foto da Ocupação PUTA anti-gentrificação, edição Mixto Quente na Bienal de Arquitetura, 2017. Fonte: Tiago Guiness/reprodução Archdaily

Sobre

Locais em que ocorre o trabalho de profissionais do sexo, em particular mulheres travestis e transexuais, mas também de homens, garotos de programa. Essas ruas são locais tradicionais de trabalho, há pelo menos, 30 anos. Contra moralismos opressores, a prostituição é o único meio de sobrevivência de muitas pessoas. Em momentos de maior repressão social e policial, o número de ruas diminui drasticamente, resultado do aumento de violência, batidas e revista policial e ações contra os locais de trabalho (fechamento de hotéis e bares) . Atualmente, apenas três quarteirões da rua Rego Freitas, próximos ao Largo do Arouche, têm concentrado trabalhadores. As ruas de trabalho são compostas também por hotéis (motéis), saunas e bares, onde há um número considerável de travestis, mulheres transexuais, homens gays e bissexuais que se prostituem.

Antigamente: lado esquerdo da Rua Amaral Gurgel. Hoje: região do direito da Rua Amaral Gurgel até a Rua Bento Freitas. Da Rua Bento Freitas até a Avenida São João são espaços em processo de gentrificação.

A ocupação das ruas como local de trabalho muda com o tempo e com as repressões urbanas, de violências policiais a projetos de intervenção que visam remoção e “limpeza”, expulsando camadas sociais de baixa renda da região. Ressalta-se que legalmente, não há dispositivo de criminalização da prostituição na legislação brasileira. Isso ocorre pois o trabalho é feito “por conta própria e o trabalho sexual individual e independente não é um crime segundo a lei brasileira” (HELENE, 2017).

A ocupação também é marcada por grupos sociais, conformando territórios específicos onde trabalham as mulheres, outras ruas onde ficam travestis e transsexuais, e ruas exclusivas de homens. Em reportagem de 1979, Ricardo Kostcho relata que “o corpo a corpo por um bom programa começou a ser disputado mais nas ruas do que nos ambientes fechados”. Seja como forma de complementação de renda ou forma de subsistência trabalhar nas ruas com a prostituição dos corpos foi a saída encontrada por muitas pessoas:

Das senhoras de meia-idade, dos corceis e chevettes na caça de mancebos bem-providos, disputados, disputados também por homossexuais elegantes, aos travestis que se multiplicam como borboletas, ao lado do mercado convencional das prostitutas profissionais, desenvolve-se uma batalha que não tem mais hora nem lugar. (KOSTCHO, 1979).

A região do lado esquerdo da Rua Amaral Gurgel, foi bastante ocupada na década de 1970. As ruas da Vila Buarque eram conhecidos como pontos de prostituição de mulheres, porém hoje dificilmente são encontras pessoas trabalhando nas ruas.

A Rua Rego Freitas é conhecida por um forte movimento de trabalhadoras e trabalhadores. Porém, em decorrência de um processo gentrificador que está acontecendo na região, as trabalhadoras do sexo foram se concentrando em esquinas específicas. Essa característica é presente em toda a região central, pois as trabalhadoras ficam mais próximas dos moteis onde prestam atendimento. Como exemplo, o Motel Kalipha, R. Rego Freitas, 377, é um dos principais locais de trabalho delas.

Já a Praça da Republica sempre foi um local de grande movimentação das e dos profissionais do sexo. Atualmente a Praça tem passado por um processo de gentrificação que retira esses profissionais dali, fazendo com que as garotas e garotos de programa ocupem as ruas em volta da praça. O Largo do Arouche também está passando por um processo de expulsão social e foi um espaço. Hoje dificilmente as “michês” são encontradas por lá.

A Rua do Arouche é uma rua historicamente conhecida por ter bastante homens gays se prostituindo, por mais que hoje em dia seja raro. A região do baixo Rego Freitas, entre a rua Santa Isabel e o Largo do Arouche também eram pontos só de homens.

Hoje, existem poucos pontos fixos de prostituição nas ruas. Isso acontece pela falta de segurança dos locais, pela repressão social e policial que aumentou drasticamente com a especulação imobiliária da região, o processo de gentrificação e retomada da burguesia ao centro. Isso faz com que as e os profissionais do sexo tenham que ficar se movimentando ou mesmo esperando clientes em ruas escuras e mal sinalizadas, colocando ainda mais em risco segurança.

Como exemplo de ação de remoção, em 2017, a prefeitura de São Paulo fechou hotéis e “inferninhos” no quadrilátero das ruas Marquês de Itu e Rego Freitas (G1, 2017). Junto a essa ação, muitas trabalhadoras foram violentadas pela polícia e algumas detidas (REIS, 2017). A ocupação PUTA anti-gentrificação durante a 11ª Bienal de Arquitetura de São Paulo, no Instituto de Arquitetos do Brasil (IABsp), que fica na rua General Jardim, promoveu um evento-manifesto intitulado Mixto Quente: Arquitetura Puta na Cidade. No evento teve a exibição de documentário; debate sobre o lugar da prostituição na cidade, com a participação de Amara Moira, Betania Santos, Erika Hilton, e Thaís Mayume; e, desfile da grufe DASPU com participação do movimento de prostitutas e da região do entorno (HELENE, 2017).

Imagem de abertura da série escrita por Ricardo Kostcho sobre o crescimento da prostituição em Sao Paulo na final da década de 1970.  Jornal da República, 1979.

Imagem de abertura da série escrita por Ricardo Kostcho sobre o crescimento da prostituição em Sao Paulo na final da década de 1970. Jornal da República, 1979.

Fontes de pesquisa

HELENE, Diana. As primeiras a serem expulsas são as prostitutas. FeminisUrbana (blog), dezembro 2017. Acesse aqui

HELENE, Diana. O movimento social das prostitutas e o direito à cidade para as mulheres. Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress, Anais…, Florianópolis, 2017,. IEG/UFSC, Florianópolis, 2017.

KOSTCHO, Ricardo. As loucas noites desse tempo de crise. Jornal da República, edição 97, 18 de dezembro de 1979, p. 18. Acesse aqui

REIS, Vivian. Travestis são detidas e acusam PMs de abuso de autoridade no Centro de SP.G1 SP, 20 de outubro de 2017. Acesse aqui

OUTRAS REFERÊNCIAS CULTURAIS RELACIONADAS
Calendário LGBTQIA+, Circuito das Saunas e Cinemas, Circuito dos Bares, Baladas e Restaurantes, Largo do Arouche