Ficha de referência cultural
Atividade educativa na Praça da República, primeiro circuito de ativação de memórias LGBTQIA+ do Museu da Diversidade Sexual em abril de 2022. Fonte: MDS/ reprodução Facebook.
Circundada pela Av. Ipiranga, pela Av. São Luís e pelas ruas Marquês de Itu e Joaquim Gustavo, a
Praça da República é uma das principais centralidades de São Paulo. Sua localização e a presença do
metrô a configuram como um ponto de encontro para diferentes públicos, em especial o público
LGBTQIA+, que historicamente tem na região - Praça da República e suas imediações - uma importante
referência. É o polo de diversos estabelecimentos voltados para a comunidade na região em
logradouros próximos, especialmente no Largo do Arouche e nas ruas Vieira de Carvalho e Rego
Freitas. Entre esses estão restaurantes, bares, boates, saunas, sex clubs, cinemas, motéis, lojas e
o Museu da Diversidade Sexual.
A praça da República consiste em uma quadra arborizada, bastante utilizada por moradores,
comerciantes e turistas. Abarca uma ocupação popular, com feiras de artesanatos, barracas de comidas
urbanas típicas da cidade (de acarajé, pastel a yakissoba). Também atua como palco de eventos
organizados pela municipalidade ou não como festa junina e comícios políticos. Tradicionalmente é
também um dos principais pontos de sociabilidade da comunidade LGBTQIA+, com o Largo do Arouche com
o qual faz um complexo de roteiros dessa temática.
A área é utilizada por classes mais baixas da comunidade LGBTQIA+, desde a década de 1950. A praça
fazia parte do roteiro do “footing”, costume de se andar a carro ou a pé e paquerar ou “pescar”.
Durante a década de 1960 o uso da região pela comunidade LGBTQIA+ foi impulsionado pela construção
da Galeria Metrópole, na qual o flerte ocorria nos encontros das escadas rolantes. Com a decadência
dos cinemas de rua, as salas da região passam a ser cada vez mais ocupada pelo público gay à procura
de encontros e sexo.
Na praça, concentravam-se as práticas de sociabilidade e encontros e prostituição masculina e de
travestis. A praça possuía um banheiro público que era utilizado como ponto de encontro e pegação na
década de 1960. O banheiro se localiza no subsolo da praça, que hoje está fechado para uso. O
abandono das salas de cinema seguia a migração dos investimentos e práticas sociais para a av.
Paulista, deixando o centro da cidade. Sobem para o espigão as “bichas finas” e, no centro, ficam as
“bichas pobres” e as “bichas velhas”.
Nas décadas de 1970 e 1980, entretanto, o movimento do desbunde, a repressão da ditadura militar e a
construção do metrô, fizeram com que a maior parte da ocupação se deslocasse para outras ruas do
entorno (PERLONGHER, 1987). A praça, porém, assim como todo o roteiro de circuitos LGBTQIA do eixo
República Arouche, manteve-se. Ainda durante a Ditadura Militar, foi parte do trajeto do ato contra
a violência policial dirigida aos homossexuais e prostitutas. Entoando frases como “abaixo a
repressão, mais amor e mais tesão!”, o grupo de cerca de 500 pessoas exigiram a remoção do delegado
Wilson Richeti.
Em 6 de fevereiro de 2000, o local ficou marcada pelo assassinato de Edson Néris da Silva, que
passeava de mãos dadas com seu companheiro Dario Pereira Netto, quando foram agredidos pelo grupo de
neonazistas Carecas do ABC. Com tal crime de ódio, o espaço teve sua força renovada quanto à luta
pela igualdade de direitos LGBTQIA+. Em 2012 foi criado o Museu da Diversidade Sexual, o primeiro da
América Latina e terceiro no mundo. Dentro da estação de metrô, o museu tem como objetivo pesquisar
e divulgar o patrimônio histórico e cultural da comunidade LGBTQIA+ e também serve de acolhida tanto
para jovens adolescentes buscando se encontrar quanto para pais de jovens gays buscando compreender
seus filhos.
A reforma da praça em 2007, especialmente a nova iluminação, fez com que houvesse uma redução no
número de travestis, transexuais e michês que trabalhavam ali. Segundo um dos entrevistados, o
deslocamento se deu para as ruas contíguas e também para a Praça Dom Penteado, em frente à balada
Love Story. Tal reforma, entretanto, é apontada por muitas pessoas como agente na diminuição da
insegurança do local. Alguns dos entrevistados apontaram, ainda, para um “aumento do IPTU”, em
contrapartida da “diminuição da degradação” da região no período de 2000 a 2010; para eles, a
degradação estaria relacionada ao que a sociedade considera como “pessoas degradadas”, ou seja,
“bichas, skatistas, trans”, etc.
GREEN, James N. Abaixo a repressão, mais amor e mais tesão: uma memória sobre a ditadura e o movimento de gays e lésbicas de São Paulo na época da abertura. Revista Arquivo Nacional, v 27 n 1. Ditadura e transição democrática no Brasil. P 53-82. Acesse aqui
NA av. São João, passeata pede o fim da violência. Folha de São Paulo, São Paulo, 14 jun 1980 Necrologia/Política, p.10
PERLONGHER, Nestor. O negócio do michê. 1aed. São Paulo, Editora Brasiliense, 1987.
TOOGE, Rikardy. Praça Da República: Do Pasto Ao Moderno, A Praça Que Cresceu Com A Metrópole. São Paulo in Foco. 14 de maio de 2014. Acesse aqui
SÃO PAULO em Hi Fi. Direção: Lufe Steffen. Brasil, 2016. DVD
OUTRAS REFERÊNCIAS CULTURAIS RELACIONADAS
Arte de Urbana de Resistência, Atividades Culturais, Blocos LGBTQIA+, Calendário LGBTQIA+, Carnaval
de Rua, Coreto, Ruas de Trabalho