Ficha de referência cultural
Pista do Homo Sapiens. Fonte: reprodução São Paulo em Hi-Fi.
O circuito dos Bares, Baladas e Restaurantes é uma rede de lugares pelos quais circulam
pessoas LGBTQIA+ exercendo atividades direta ou indiretamente ligadas à prática de sua
identidade sexual. O circuito reúne espaços voltados à diversão, lazer e
paquera. São lugares de vida boêmia, noturna, mas também diurna e sociabilidades
e práticas que ocorrem em público. A frequência de pessoas LGBTQIA+ tornam esses
estabelecimentos seguros para a livre expressão identitária. O principal espaço
público que congrega essa prática é o Largo do Arouche, onde jovens e adultos
ocupam a praça e com a presença de vendedores ambulantes de bebidas e mercados do
entorno fazem seus bares a céu aberto. Os estabelecimentos privados composto de bares,
baladas e restaurantes são diversos. Alguns lugares são historicamente frequentados
pela comunidade LGBTQIA+ desde a década de 1970. Outros que já não mais
existem, permanecem como símbolos de resistência e memória identitária.
É o conjunto de bares, baladas e restaurantes que transforma a região num ponto de
encontros simbólicos LGBTQIA+.
Os lugares que fazem parte do Circuito de Bares, Baladas e Restaurantes são espaços
vitais para a expressão identitária LGBTQIA+, onde é possível construir
uma rede social, bem como escapar da perseguição e preconceitos sociais. O nome
circuito parte da compreensão de que o conjunto de lugares se relacionam a determinados usos
do espaço marcados por uma dada sociabilidade, o que implica em um manejo de códigos
(MAGNANI, 2002). O circuito possui significados para além de festa e da paquera,
também constituem-se como locais de congregação e de reuniões de
pessoas, que devem ser respeitados.
Chegar e estar nesses estabelecimentos, é descrito por muitas pessoas, como símbolo de
liberdade. No Brasil, a expressão “Fervo também é luta”, utilizada
pelo coletivo de ativistas LGBTQIA+, feministas e negros: Revolta da Lâmpada, ilumina a
força desses lugares. Em entrevista para a revista Carta Capital (2014), um dos fundadores do
movimento relata que:
O fervo está totalmente em função da política: as músicas e manifestações culturais do evento não estão desvinculadas em nenhum momento das reivindicações que estamos fazendo [...] O discurso político não sai apenas de nossas bocas, mas também da performatividade e das mais variadas expressões de gênero. (CARTA CAPITAL, 2014)
As boates, baladas e casas de show contam com espaços para dançar e palcos para
apresentações e performances de TRANSFORMISTAS e de DRAGS. São lugares de
diversão e paquera que cobram ingresso para entrar, diferente dos bares, botecos e
restaurantes que apenas cobram por aquilo que é consumido. Esses lugares atendem
públicos diversos e de diferentes classes sociais, abarcando dos espaços luxuosos aos
conhecidos “inferninhos”. Os bares lotados aos fins de semana, principalmente aos
domingos caracterizam a “Praia” do Arouche, um conjunto de quatro quatro bares que tem
este nome popular da região onde a onde a socialização,
“pegação” e “ferveção” é intensa.
A concentração de bares, baladas e restaurantes do Arouche são uma grande
atratividade da região, contribuindo para seu aspecto boêmio. Em geral, os bares,
restaurantes e baladas do Arouche são um espaços importantes da região, onde a
maioria dos estabelecimentos são “LGBTfrendly”. Como o público é
grande e diverso, existem alguns lugares que são mais frequentados por públicos
específicos da comunidade LGBTQIA+. Assim, alguns bares são mais usados em grande
maioria por lésbicas, outros por gays, alguns são mais caros e outros mais baratos,
separando os lugares também por classe social.
Abaixo apresentamos uma relação de alguns lugares:
Boates, baladas e casas de show
ABC Bailão, Rua Marquês de Itu, 182, Vila Buarque: conhecida por ser o mesmo lugar
da maiis antiga boate gay da cidade (a antiga “Homo Sapiens”, fundada na década
de 1980), hoje tem público prioritariamente mais velhos, na faixa acima de 40 anos, chamados
também de “daddies” ou “granddaddies” - do inglês,
“papais” e “vovôs”. Com ambiente mais tranquilo, quando comparado
às demais boates, costuma-se “dançar coladinho” e a música vai do
pop ao forró.
Casa do Seu Zé Dance Club (memória), Rua Rego Freitas, 56.
La Barca Club, Rua Bentro Freitas 296: After party que funciona todos os dias.
Prostituição com travestis, mulheres e drogas. 6-16h
Freedom Club, Largo do Arouche, 6, República.
Cantho Dance Club (memória), Largo do Arouche, 32, República. Por conta da pandemia, a
Cantho encerrou suas atividades em 2021. Um
dos eventos mais populares foi “Energy After” que começava às 7 horas da
manhã de domingo.
Danger Dance Club, Rua Rêgo Freitas, 470, República.
The Sensation (antiga Planet G e Roleta), Rua Rego Freitas, 56, Vila Buarque. No local funcionava um
antigo cinema, mantendo a tradição um dos andares ainda exibe filmes, porém de
gênero eróticos e/ou pornográficos.
L`Amour Night Club (memória), Rua Bento Freitas, 366 _Dedalus Bar, Rua Bento Freitas, 38.
Possui glory holes, dark room, curral e promoções para públicos
específicos a cada dia. Foi eleito o Melhor Sex Club de 2021 pelo Guia Gay São Paulo,
portal LGBT.
Blue Space, Rua Brigadeiro Galvão, 723, Barra Funda _Blackout, Rua Amaral Gurgel, 253 - Vila
Buarque. Club de Orgias Gay onde funcionou a antiga Prohibidus, a primeira casa famosa com a
presença majoritária de travestis, criada pela empresária travesti
Andréa de Mayo.
Val-Improviso e Val-Show (memória), Rua Marquês de Itu / Rua Frederico Steidel.
Lendárias casas de shows de travestis, famosas por ficarem abertas até amanhecer.
Foram criadas por Andréa de Mayo, travesti reconhecida por acolher muitas pessoas que sofriam
na noite. O Val-Improviso está eternizado na letra de música de Cazuza, frequentador
do local.
Love Story (memória), R. Araújo, altura 244 _Tokyo 東京 , R. Maj. Sertório, 110
Bares, botecos e restaurantes
Ferro's Bar (memória), Rua Martinho Prado, 119, Bela Vista. Local do histórico
"Levante do Ferro's Bar", chamado também de "Pequeno Stonewall
brasileiro" em que lésbicas ocuparam o local contra a repressão de seus
proprietários em 1983. A data do levante, 19 de agosto, é hoje celebrado como Dia do
Orgulho Lésbico.
Chopp escuro, Rua Marquês de Itu, 252, Vila Buarque. Reduto histórico da madrugada
Lima`s Bar, Rua Bento Freitas, 151, Vila Buarque.
Bar Queen, Rua Vitória, 826, República. Performances drag, travestis e gogo
Bar Fama, Rua Frederico Abranches, 29, Santa Cecília. Presença de garçons de
bunda de fora
Striper Bar / Bar dos Amigo, Rua Vitória, 813, República. Gogo e drags
Café Vermont, Avenida Doutor Vieira de Carvalho, 10, República. Bar de
ocupação histórica lesbica, atualmente é o único da região
que é conhecido e frequentado por esse público.
Lanchonete Nova Vieira, Avenida Doutor Vieira de Carvalho, 31, República.
Soda Pop Bar, Avenida Doutor Vieira de Carvalho, 43, República.
Caneca de Prata, Avenida Doutor Vieira de Carvalho, 55, República. Aberto em 1972 é
considerado o mais antigo bar gay de São Paulo
63 Bar, Avenida Doutor Vieira de Carvalho, 63, República.
Paris 94, Avenida Doutor Vieira de Carvalho, 94.
Princesinha do Arouche, Av. Viêira de Carvalho, 184, República
Sputnik Bar, Largo do Arouche, 330
Trabuco Bar, Largo do Arouche, 372
Estrela do Arouche, Largo do Arouche, 82
Sai de Baixo, Largo do Arouche, 76
Lucy Bar, Largo Arouche, 116
Choperia Prainha do Arouche, Largo do Arouche, 88
Padaria Gêmel, Largo do Arouche 400
Zig Duplex, R. Araújo, 155
Encontro dos Amigos, R. Bento Freitas, 151
A Preferida da República, Av. Vieira de Carvalho, 11
Pizzaria Felice/Sinuca Bar/"Bar da Rita", R. Rego Freitas, 487
Bar do Meio III, R. Aurora, 880
Bar do Meio IV, R. Vitória, 850
Clandestinos Bar e Paris Bar, Av. Vieira de Carvalho, 94
Woof Bar, Av. Vieira de Carvalho, 31
Bar Térreo, Largo do Arouche, 77
Cama de Gato, R. Amaral Gurgel, 453
Pavão Bar, R. Sebastião Pereira, 155 _Barouche (fechou e foi pra Pinheiros), Largo do
Arouche, 103
Laranjão Pizzaria, R. Bento Freitas, 131
Bar e Lanches Largo do Arouche (memória), Largo do Arouche, 382
Mistura Fina (memória), Rua Major Sertório. Possuia estrutura com salão de
jogos e pista de patinação.
Men’s Country/ 266 West Bar/ Batuk Bar/Roleta (memórias). Foram bares da região
que compunham o circuito na década de 1970 junto com Homo Sapiens, Chopp Escuro e Caneca de
Prata.
Botecos Anônimos. De portas para rua, opção mais em conta e que faz a festa de
quem fica pelo Arouche
Festas esporádicas
Batekoo
Terça Trans: no Bar Queens
PopPornParty: uma festa de libertação e exaltação dos corpos.
Kevin: costuma acontecer em puteiros do centro de SP
Dando
Voodoohop
VelcroLivre
Entrada da Homo Sapiens, em 1978. Reprodução São Paulo HI-FI.
A Revolta da Lâmpada. Revista Carta Capital, 7 de novembro de 2014. Acesse aqui
SÃO PAULO em Hi Fi. Direção: Lufe Steffen. Brasil, 2016. DVD.
REPEP. Dossiê do Inventário Participativo Minhocão contra gentrificação. São Paulo, 2019.
OUTRAS REFERÊNCIAS CULTURAIS RELACIONADAS
Café Vermont, Ferro’s Bar, Calendário LGBTQIA+, Circuito de Bares, Baladas e
Restaurantes